20 maio 2012

Todos ganham com o câmbio desvalorizado?


Comumente, ouvimos que a taxa de câmbio é um importante instrumento para se promover o crescimento econômico de um país. 

O ministro da Fazendo, Guido Mantega[1], recentemente afirmou que “o dólar alto beneficia a economia brasileira porque dá mais competitividade aos produtores. Significa que a indústria brasileira pode competir melhor com os importados, que ficam mais caros, e pode exportar mais barato para o exterior. Portanto, não preocupa”.

Rogoff e Reinhart (2004)[2] mostram que o Brasil perde apenas do Congo entre os países com as moedas que mais se desvalorizaram no mundo entre 1970 e 1991. Nesse sentido, há algumas questões pertinentes:

1. Isso tornou o Congo ou o Brasil nações industriais e competitivas?
2. Além disso, como se justifica a perda de participação relativa da indústria no PIB nesse mesmo período?
3. Como nações ricas e de câmbio apreciado, como a Alemanha e os Estados Unidos, conseguem ter participações elevadas entre os países exportadores do mundo?

No jogo da desvalorização (ou depreciação, se assim quiserem), nem todos ganham. Viajar para o exterior é um sonho para muitos, e que contribui de várias formas que não podem ser mensuradas monetariamente para a pessoa e o país ao qual habita.

Nesse artigo irei tratar do setor do turismo internacional no Brasil, e mostrar como um câmbio desvalorizado prejudica aqueles que querem e/ou necessitam viajar para outros países.


Taxa de câmbio - R$ / US$ - comercial

A Taxa de câmbio é a taxa utilizada nas transações oficiais (exportações, importações e transações financeiras) registradas no Banco Central do Brasil.

A taxa de câmbio diz quanto está valendo o real, frente ao dólar. Uma taxa de câmbio mais baixa (valorizada), diz que a moeda brasileira está se fortalecendo frente ao dólar. Ou seja, com um mesmo montante de reais (digamos, R$1000), compram-se mais mercadorias registradas em dólar.

E como isso afeta o setor de turismo no Brasil?

Uma taxa de câmbio valorizada significa que a moeda brasileira está se fortalecendo, ou seja, viajar para o exterior está ficando cada vez mais barato!

Vejamos o comportamento da taxa de câmbio no Brasil durante o período de 1980 a 2011:

 Fonte: IPEADATA.
Figura 1 - Taxa de câmbio (comercial / venda) no Brasil durante o período de 1980 a 2011.
              
Ressalta-se que desde 2003 o real tem se valorizado persistentemente frente ao dólar. Ou seja: viajar para o exterior está ficando cada vez mais acessível!

            Vamos conferir os gastos trimestrais dos brasileiros no exterior nos últimos anos, desde 1980 até 2011:

 Fonte: IPEADATA.
Figura 2 – Gastos trimestrais dos brasileiros no exterior (milhões de US$) no período de 1980 até 2011.

 Percebe-se que a partir do momento em que houve um ciclo contínuo de queda na taxa de câmbio, a partir de 2003, coincidiu com o ciclo contínuo de alta nos gastos internacionais por parte dos brasileiros. Ou seja, real valorizado anda lado a lado com os gastos em internacionais dos brasileiros.
            Através de análise econométrica, foi constatado que, para o período de 1995 a 2011, a elasticidade renda do setor de viagens internancionais no Brasil é de -2,02, ou seja, para cada 1% de queda na taxa de câmbio (real valorizando), ocorre um aumento de 2% nos gastos dos brasileiros com viagens internacionais. 
 
No caso brasileiro, concretamente a disparidade das taxas de juros prevalecentes entre o mercado interno e o mercado externo exerce influência sobre a taxa de câmbio. Especificamente, após criação de uma série que considera a diferença entre a taxa de juros SELIC e a taxa de juros referencial internacional (FED funds Rate), e posterior contraste com a taxa de câmbio média do mês para compra, tem-se a figura 3.

 * Para todas as variáveis, base janeiro de 2000=1
Fonte: IPEADATA.
Figura 3 – Diferenças mensais entre taxas de juros SELIC e a taxa de juros FED funds Rate e a taxa de câmbio média mensal para compra.

 Há uma clara relação positiva entre as variáveis, ou seja, a discrepância entre taxas de juros exercem influência altista na formação da taxa de câmbio no Brasil.

Quanto às projeções, para o dólar voltar a se fortalecer consideravelmente frente ao real (acima de R$2,00), é necessário que a diferença entre as taxas de juros no Brasil e no mercado internacional continue caindo. Ou também, uma grande crise econômica ou alguma medida catastrófica do governo, o que é improvável em um cenário de curto e médio prazo. 

Com o real valorizado, o setor de turismo internacional é um mercado em expansão contínua no Brasil!

Naturalmente, com o real desvalorizado, o setor de turismo internacional é um mercado em retração no Brasil!

OBS: Esses levantamentos são fruto de uma pesquisa que realizei para uma agência de turismo. Naturalmente, quando falo que o setor de turismo internacional é um mercado em expansão no Brasil, eu estou me referindo ao mercado que a agência explora - venda de roteiros internacionais.



[1] http://veja.abril.com.br/noticia/economia/guido-mantega-comemora-dolar-em-alta
[2] Reinhart, Carmen e Keneth Rogoff (2004a), “The modern history of exchange rate arrangements: a reinterpretation”, Quarterly Journal of Economics, 119(1), fevereiro: 1-48.