23 julho 2012

O pesadelo das exportações brasileiras



Nos últimos anos, tem voltado a ganhar notoriedade no Brasil a tese de que o Brasil pode retornar a ser um “mero” exportador de matérias-primas, o que certamente, nos perpetuará no grupo dos países subdesenvolvidos.

De acordo com os dados dos últimos cinco anos, a parcela dos produtos primários na pauta de exportações brasileiras cresceu de 32% do total das exportações para 48% do total. No mesmo período, as manufaturas perderam participação, saindo de 52% em 2007 e atingindo 36% do total das exportações em 2011. A análise dos dados, portanto, comprova que o país está se “desindustrializando”.



Mas essa análise bruta dos dados é muito superficial, e esquece fatores importantes que impactam na economia, como incentivos, mercados em busca de lucros e preços relativos, apenas para citar alguns.

Por exemplo, no período acima citado, houve uma elevação significativa nos preços de produtos primários, praticamente dobrando, enquanto os preços de manufaturas aumentaram significativamente menos, apenas 35%. Isso por si só, já implica que a elevação da participação dos produtos primários deve ser elevada relativamente frente às manufaturas, pois caso contrário, o país estaria perdendo uma ótima oportunidade de ganhos econômicos. Negar esse fato ou lutar contra ele, além de ser absolutamente antieconômico, gera profundas perdas em termos de renda e bem-estar.

Schwartsman[1] usou uma metodologia que decompõe a evolução da parcela de manufaturados no total exportado entre os efeitos derivados de quantidades e os efeitos oriundos dos preços. Obteve-se:

 
Conforme explica Schwartzman, excetuando 2009, a queda da participação dos manufaturados (consequentemente, a elevação da participação de primários) resultou essencialmente da redução dos preços desses bens relativamente ao preço médio das exportações, com escassa contribuição das quantidades de manufaturados, que cresceram em linha com as quantidades totais.

Ou seja, os preços relativos - à medida que geraram incentivos a elevação da participação dos produtos primários – contribuíram nesse período para que as exportações dos manufaturados fossem reduzidas em termos relativos, sem significar, no todo, que de fato as exportações caíssem em termos de quantum[2].

            O ano de 2009 foi um ano atípico de fato (em face do estouro da crise mundial), e a significativa redução das exportações de manufaturas (portanto a contribuição negativa das quantidades) foi ocasionada pelo colapso das importações em nossos principais mercados, responsáveis pela absorção de 75% das vendas desses produtos.

            Além disso, os nossos principais importadores de produtos primários – que haviam reduzido as importações de US$ 5,8 trilhões para US$ 4,3 trilhões de setembro de 2008 a dezembro de 2009 – elevaram para US$ 6,3 trilhões as compras no ano passado, superando os níveis pré-crise e, trazendo as exportações de primárias para US$ 74 bilhões em 2011, patamar consideravelmente superior ao observado às vésperas da crise (US$ 41 bilhões).

Conforme conclui Schwartsman “manufaturas perderam importância na pauta principalmente pela queda de seus preços relativamente aos primários e pela lenta recuperação dos principais mercados. Por outro lado, a participação de manufaturas nesses mercados caiu apenas marginalmente entre 2007 (1,39%) e 2011 (1,32%), indicação que “competitividade” não parece, nem de longe, ser o problema”. 

Chama a atenção a recente queda de preços das commodities, o que, caso este fenômeno não seja revertido, deverá fazer com que as manufaturas voltem a ganhar importância na pauta de exportações brasileiras. Destaca-se que - para surpresa de muitos - isto não será um ganho para o país, visto que, essencialmente, as exportações brasileiras estão sendo desvalorizadas, o que implica que nosso desempenho econômico e bem-estar estão sendo reduzidos frente ao período em que os preços dos produtos primários estavam maiores. Concretamente, o país terá que produzir mais e exportar mais para chegar ao mesmo resultado que era obtido anteriormente.

Como diz o ditado, cuidado com os seus desejos – eles podem se tornar realidade.


[2] Outra informação que você não ouvirá dos alarmistas da desindustrialização.