Nos últimos anos, tem voltado
a ganhar notoriedade no Brasil a tese de que o Brasil pode retornar a ser um
“mero” exportador de matérias-primas, o que certamente, nos perpetuará no grupo
dos países subdesenvolvidos.
De acordo com os dados dos
últimos cinco anos, a parcela dos produtos primários na pauta de exportações
brasileiras cresceu de 32% do total das exportações para 48% do total. No mesmo
período, as manufaturas perderam participação, saindo de 52% em 2007 e atingindo
36% do total das exportações em 2011. A análise dos dados, portanto, comprova
que o país está se “desindustrializando”.
Mas essa análise bruta dos
dados é muito superficial, e esquece fatores importantes que impactam na
economia, como incentivos, mercados em busca de lucros e preços relativos,
apenas para citar alguns.
Por exemplo, no período acima
citado, houve uma elevação significativa nos preços de produtos primários,
praticamente dobrando, enquanto os preços de manufaturas aumentaram significativamente
menos, apenas 35%. Isso por si só, já implica que a elevação da participação
dos produtos primários deve ser elevada relativamente frente às manufaturas,
pois caso contrário, o país estaria perdendo uma ótima oportunidade de ganhos
econômicos. Negar esse fato ou lutar contra ele, além de ser absolutamente
antieconômico, gera profundas perdas em termos de renda e bem-estar.
Schwartsman[1]
usou uma metodologia que decompõe a evolução da parcela de manufaturados no
total exportado entre os efeitos derivados de quantidades e os efeitos oriundos
dos preços. Obteve-se:
Conforme
explica Schwartzman, excetuando 2009, a queda da participação dos manufaturados
(consequentemente, a elevação da participação de primários) resultou
essencialmente da redução dos preços desses bens relativamente ao preço médio
das exportações, com escassa contribuição das quantidades de manufaturados, que
cresceram em linha com as quantidades totais.
Ou seja, os preços relativos - à medida que geraram
incentivos a elevação da participação dos produtos primários – contribuíram
nesse período para que as exportações dos manufaturados fossem reduzidas em
termos relativos, sem significar, no todo, que de fato as exportações caíssem
em termos de quantum[2].
O
ano de 2009 foi um ano atípico de fato (em face do estouro da crise mundial), e
a significativa redução das exportações de manufaturas (portanto a contribuição
negativa das quantidades) foi ocasionada pelo colapso das importações em nossos
principais mercados, responsáveis pela absorção de 75% das vendas desses
produtos.
Além
disso, os nossos principais importadores de produtos primários – que haviam reduzido
as importações de US$ 5,8 trilhões para US$ 4,3 trilhões de setembro de 2008 a
dezembro de 2009 – elevaram para US$ 6,3 trilhões as compras no ano passado,
superando os níveis pré-crise e, trazendo as exportações de primárias para US$
74 bilhões em 2011, patamar consideravelmente superior ao observado às vésperas
da crise (US$ 41 bilhões).
Conforme conclui Schwartsman
“manufaturas perderam importância na
pauta principalmente pela queda de seus preços relativamente aos primários e
pela lenta recuperação dos principais mercados. Por outro lado, a participação
de manufaturas nesses mercados caiu apenas marginalmente entre 2007 (1,39%) e
2011 (1,32%), indicação que “competitividade” não parece, nem de longe, ser o
problema”.
Chama a atenção a recente
queda de preços das commodities, o
que, caso este fenômeno não seja revertido, deverá fazer com que as manufaturas
voltem a ganhar importância na pauta de exportações brasileiras. Destaca-se que
- para surpresa de muitos - isto não será um ganho para o país, visto que,
essencialmente, as exportações brasileiras estão sendo desvalorizadas, o que
implica que nosso desempenho econômico e bem-estar estão sendo reduzidos frente
ao período em que os preços dos produtos primários estavam maiores.
Concretamente, o país terá que produzir mais e exportar mais para chegar ao
mesmo resultado que era obtido anteriormente.
Como diz o ditado, cuidado
com os seus desejos – eles podem se tornar realidade.