Em pleno século XXI, os economistas não conseguem
comunicar algumas ideias básicas da economia para o público em geral. Um caso
peculiar, e que merece referência, é o comércio internacional, como brevemente
explicarei.
A razão para esta falha é que a maioria dos economistas
tem pouco interesse em falar sobre economia para os não economistas. Há
exceções, como é atualmente no Brasil o professor Ubiratan Iorio e como foi no
passado o professor Milton Friedman, que explicou claramente os efeitos
econômicos da inflação e do controle de preços. Mas exceções como eles são
raras.
Pior ainda, alguns comentaristas econômicos se esforçam
para piorar o desentendimento atual sobre o funcionamento dos mercados. Muitos
deles apenas reforçam as falácias correntes.
Não há falácia econômica tão difundida como o a de que um
país perde quando os cidadãos compram bens e serviços de estrangeiros, ou seja,
quando praticam comércio internacional (livre comércio). Essa ideia
mercantilista, combatida e já demonstrada ser errada há séculos, ainda existe. O
que se argumenta, nesse sentido, é que os brasileiros estão gastando reais no
exterior ou com ele. Então, concluem que empregos estão sendo "destruídos",
e que a economia brasileira está sendo prejudicada.
O bom economista deve corrigir este equívoco, explicando
que todos os recursos monetários ganhos pelos estrangeiros que vendem para os brasileiros,
inevitavelmente, retornam ao Brasil. Estrangeiros usam esses recursos para
comprar bens brasileiros ou para investir na economia brasileira (o recurso
jamais some do sistema econômico, ele não é desperdiçado).
Todos os reais que os brasileiros gastam em importações retornam
ao país, tão certo como retornariam se os brasileiros tivessem comprado o
produto em solo nacional. Comparado à situação em que o governo brasileiro
impede o comércio dos brasileiros com os estrangeiros, esses reais retornam com
maior efeito positivo sobre a economia do país. A razão é que o comércio
permite que nós brasileiros possamos comprar do exterior os produtos que os estrangeiros
oferecem para nós a preços mais baixos do que nos custaria para fazer esses mesmos
produtos por aqui. Com efeito, há um ganho líquido.
Exemplifico: Imagine que para produzir um relógio na
Suiça custe X, e que produzir o mesmo relógio no Brasil custe 2X. Ao
adquirirmos o bem dos suíços, gastamos X, e ainda há uma sobra na economia
brasileira de X, que poderá ser gasta com outro bem. Com efeito, a sociedade
brasileira na realidade enriquece ao praticar o comércio de relógio, visto que
agora há no país um relógio e outro bem, digamos, uma luneta. Tudo isso apenas
é possibilitado através do comércio, em que bens menos custosos são adquiridos
e reduzem a restrição orçamentária da população, possibilitando maior consumo.
Os economistas há muito tempo compreenderam os ganhos
mútuos do comércio internacional. Contudo, ainda há aqueles que se esforçam
para gerar desentendimento sobre o comércio internacional.
Considere, por exemplo, uma frase típica (e tipicamente
mercantilista): "Muitos reais são gastos em importações que não retornam
para comprar as exportações dos Brasil - a diferença entre as importações e
exportações foi a perda do Brasil”. Quem fala isso está falando besteira.
Simples assim.
Os reais que os estrangeiros não gastam com as
exportações do Brasil não são "a perca comercial do país." Pelo
contrário, esses reais são reinvestidos no Brasil e, portanto, eles criam a demanda
por bens e serviços do Brasil não menos do que aquela que os reais criariam se
o recurso fosse utilizado para comprar as exportações do Brasil.
Os reais que os japoneses investem em títulos do Tesouro Nacional
brasileiro se tornam a demanda por bens e serviços do Brasil - demanda expressa
pelos gastos do Tesouro ou por particulares que vendem títulos para o Japão e
que, então, gastam na economia os reais que ganham nas vendas dos títulos. Da
mesma forma, os reais que a japonesa Sumimoto investem na construção de fábricas
no Paraná tornam-se a demanda por bens e serviços do Brasil - demanda para os gastos
com materiais de construção e os operários da construção civil.
Portanto, reflita sobre o argumento mercantilista. Não há
motivo em pleno século XXI para se argumentar que importações prejudicam um
país.
Parabens. Ótima explicação.
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