Infelizmente, os meios de divulgação tem prestado um
enorme desserviço ao país ao ressaltar a alta no preço do tomate e considerá-la
a grande vilã da inflação. Pergunta-se: Como pode um bem que possui participação no orçamento de 0,22%
impactar tanto sobre um índice de inflação?
Como ressalta Gustavo Franco, “o essencial é que a
inflação é um esporte de massa”. Por definição, a inflação é caracterizada como
o aumento generalizado dos preços - e não o aumento do preço de um bem.
No caso brasileiro, chama atenção o “índice de
difusão”, que mede simplesmente a proporção de produtos dentre os 365
componentes do IPCA cujos preços tenham aumentado no mês. O fato do processo de
elevação de preços estar generalizado na cesta de bens considerados no índice
ocorre, pois aproximadamente 75% dos bens pesquisados estão sofrendo elevação
nos seus preços. A escalada dos preços não se trata, portanto, de um fenômeno
isolado, mas sim de um fenômeno amplamente difundido entre os produtos.
Há ainda a defesa de que o comportamento do
consumidor pode atenuar o processo inflacionário. É um grande engano essa
crença. Explico-me: Há aqueles que sustentam que ao consumidor se abster de
consumir o produto que está tendo alta consistente nos preços (como o tomate),
forçaria a queda no preço do produto, impactando assim nos índices de inflação.
Grande engano. É bem verdade que ao se abster de consumir o produto com preço
mais elevado, pressiona-se a queda no preço do bem. Contudo, os consumidores não
param simplesmente de consumir, e o fato de se abster de consumir certo produto
(como o tomate), não faz com que ele pare de consumir os outros produtos. Ele
apenas substitui o consumo do produto em alta (tomate), consumindo outro
produto. Neste caso, ao se elevar a demanda dos outros bens, novamente está
ocorrendo o processo de pressão sobre os preços (a curva de demanda do novo bem
é deslocada para a direita, com novo preço de equilíbrio agora maior). Em suma,
abster-se de consumir um bem com preços em alta (como o tomate) não reduz a
pressão sobre os índices de inflação!
Como ensinou o professor Milton Friedman, “a
inflação é sempre e em toda a parte um fenômeno monetário”. Nesse caso, não há
a menor possibilidade de controle inflacionário sem a adoção de rigorosa
política monetária. E para haver rigor na política monetária, é necessário que
haja independência do Banco Central, e não intromissão de presidente, ou ainda,
ministro da fazenda falando sobre controle inflacionário. Inflação é fruto de
política monetária, competindo apenas ao Banco Central tratar do assunto.
Em assuntos econômicos, quando o voluntarismo ou a “fé”
se sobressai sobre a sólida teoria econômica, vemos péssimos resultados
econômicos, como os que estão ocorrendo atualmente no Brasil. Controle
inflacionário não se faz com desoneração tributária e controle de preços, mas
sim com política monetária prudente.
Mas para haver política monetária prudente, também é
necessário controle na política fiscal... Considerando o entrelaçamento que
existe entre política fiscal e monetária, torna-se crível que a política
monetária não poderá ser prudente enquanto prevalecer no Brasil “contabilidade
criativa” e outras artimanhas da política fiscal conduzida pela pior equipe econômica da história do Brasil.