02 setembro 2014

O Brasil estragou tudo?



Um interessante working paper publicado no site do Peterson Institute pelo economista Anders Åslund aborda um tema que é ao mesmo tempo relevante, polêmico e não consensual: a redução do crescimento das economias emergentes, inclusive dos BRICS.

O autor apresenta sete razões principais para o alto crescimento das economias emergentes ter chegado ao fim:

  1. Um dos maiores booms de crédito de todos os tempos já atingiu seu ápice. Taxas de juros extremamente baixas não podem continuar pra sempre. Uma correção é, portanto, inevitável. Muitas economias emergentes são financeiramente vulneráveis, com altos déficits fiscais, dívida pública, déficits na conta corrente e ainda inflação alta.
  2. Também um grande boom nos preços das commodities já atingiu seu ápice. Enquanto preços altos e baixo crescimento pressionam a demanda, os preços elevados tem estimulado um grande choque de oferta.
  3. O ciclo atual de investimento também já atingiu seu ápice, visto que a China terá de reduzir sua taxa de investimento e as taxas reais de juros terão de subir.
  4. Devido a muitos anos de elevado crescimento econômico, o potencial de recuperação das economias emergentes foi reduzido e as taxas de crescimento deverão cair, ceteris paribus.
  5. Muitas economias emergentes realizaram reformas importantes no período entre 1980 a 2000, mas pouquíssimas entre 2000 a 2012. O potencial de governança restante foi reduzido. Usualmente, as reformas evoluem em ciclos que são iniciados por sérias crises, e após 12 anos de sólidas reformas a complacência toma seu lugar nas economias emergentes.
  6. Ainda pior, os governos de muitas economias emergentes estão tomando conclusões equivocadas sobre o que ocorreu durante a grande recessão. Muitos deles pensam que o capitalismo de Estado e a política industrial se mostraram superiores ao livre mercado e a iniciativa privada. Portanto, eles não percebem a necessidade de melhorar suas políticas econômicas, pelo contrário, estão propensos a agravar ainda mais o quadro.
  7. Por fim, as economias emergentes se beneficiaram amplamente dos mercados dos países desenvolvidos, ainda que não totalmente recíproco. Nesse sentido, o ocidente tenderá a optar por acordos comerciais seletivos, ao invés de liberalização geral e indiscriminada, como até então verificada. 


Preocupa ainda o fato do Brasil ter sido apontado pelos bancos Deutsche Banke e Morgan Stanley como um dos cinco frágeis (fragile five)...

Cito apenas dois trechos interessantes:

"During the oil boom in the 1970s, Soviet leaders thought they were geniuses, neglecting badly needed economic reforms. When commodity prices declined in the 1980s, Soviet leaders were incompetent, uninformed, and unprepared, having faced too few problems for too long. The natural outcome was the collapse of the Soviet political and economic system".

"In the early 1980s, the world saw the same two critical trends — rising global interest rates (both nominal and real) and lower commodity prices — which hit poorly managed emerging economies and are likely to be hit again. In the short term, emerging economies with large current account deficits, foreign indebtedness, budget deficits, public debts, and high inflation look vulnerable. These countries are Brazil, India, South Africa, and Turkey...".

Alguma coincidência? Algum país está passando por esse cenário atualmente?

O artigo discorre sobre vários pontos interessantes que permeiam a economia e a política brasileira. Uma leitura muito interessante, altamente recomendada, sobretudo pra quem gosta de análises sistêmicas e econômicas sob um ponto de vista global.

O artigo original pode ser visualizado neste link.